A MÁQUINA QUE COMEÇOU A PENSAR
Certa vez, fui passear a uma vila perto da minha aldeia e conheci uma máquina muito curiosa, cuja história vou agora contar.
Esta era uma máquina que todos os dias, desde o momento em que a ligavam de manhã até à hora que a desligavam ao fim do dia, fazia sempre a mesma coisa. Ela passava o tempo todo na passadeira de uma fábrica de automóveis, ora a pintar um carro, ora a pintar outro. Ela tinha sempre uma grande fila de carros para pintar todos os dias!
Não se sabe como mas, certo dia, ela ouviu uma voz que vinha dentro dela que lhe dizia assim:
"Porque é que estás aí a fazer sempre a mesma coisa? Não sabes que há muitas mais coisas para fazer para além destas que fazes aqui? Não gostavas de fazer e de conhecer algo novo e diferente?"
Mesmo sem saber quem é que lhe falava e porquê, ela respondeu àquela voz dentro do seu pensamento:
"Porque isto é o que eu faço sempre, este é o meu destino. E depois, o que é que há que eu possa conhecer ou fazer diferente disto aqui?"
"Existem tantas coisas que podias conhecer e que podias fazer." - Disse aquela voz estranha dentro dela. A voz continuou:
"Já pensaste por exemplo quem é que te liga todos os dias, e se essa pessoa que te liga também é ligada por alguém? Já pensaste também como é que seria se em vez de pintares carros, fizesses outras coisas diferentes? Sabias que para além desta passadeira que te traz as peças para tu pintares, existem muitas mais coisas para ver e para viver?"
A máquina ficou incrédula com aquela conversa doida que de repente começou a ouvir dentro da sua cabeça, mas continuou o seu dia a pintar carros, ao mesmo tempo que ia tentando desligar aquela voz que não parava de tagarelar dentro dela. Só que a voz continuou sempre a falar sem parar. A máquina até começou a acreditar que estava a ficar maluca e pensou assim: De onde é que me veio esta voz estranha que não me sai da cabeça? Será que esta voz é minha, ou é alguém a falar através de mim?
Ela então decidiu que tinha de esquecer aquela conversa na mente dela e continuou a trabalhar, tentando focar-se a todo o custo naquilo que estava a fazer para conseguir distrair-se.
Entretanto, chegou o nomento de o operador de máquinas a desligar, no fim de mais um dia. E, sempre que ela era desligada, normalmente ficava só ali, à espera que a ligassem de novo. Mas desta vez parece que se tinha acendido uma luzinha dentro dela. Alguma coisa se tinha ligado nela, e não era o botão que a fazia trabalhar de uma forma automática! A máquina estava muito confusa e nem sequer sabia o que eram aquelas conversas que subitamente começaram a existir dentro dela. Ela não fazia nenhuma ideia do que se estava a passar com ela. Pensar não era algo que estivesse habituada a fazer. As máquinas nem sequer pensam, elas são programadas e fazem apenas aquilo que está no programa.
O que é certo é que algo aconteceu com esta máquina e a partir daquele dia, ela começou a questionar tudo aquilo que fazia. De repente, parecia que mais nada fazia sentido! É certo e sabido que, quando uma mente se expande, nunca mais volta a ser como era antes. Já dizia um grande cientista chamado Albert Einstein.
Então, a partir daquele momento, a máquina começou a fazer a ela mesma perguntas como: o que é que eu estou a fazer aqui nesta fábrica? Porque é que eu pinto os carros e não aperto antes os parafusos das portas ou do motor? Quem é que me liga todos os dias e porquê? Será que existe mais alguma coisa para além desta fábrica de automóveis e será que eu podia fazer outras coisas diferentes?
Eram tantas as perguntas que a máquina nem deu pelo tempo passar. Quando ela foi a ver, um novo dia tinha amanhecido e o operador de máquinas já a estava a ligar outra vez, para iniciar mais um dia de trabalho. Assim, sem perceber que espécie de programa estava instalado nela, ela voltou a fazer tudo de uma forma automática.
Mas desta vez foi diferente. Agora, ela sabia que estava programada para fazer aquelas coisas repetidamente, desde o momento em que era ligada até ao momento em que era desligada. As perguntas que ela passara a noite toda a fazer a si própria não a abandonaram, e ela só pensava que tinha de encontrar as respostas.
Foi então que, de repente, por causa de toda aquela agitação mental, ela entrou em curto circuito e avariou. O operador de máquinas que era responsável por ela, e que a costumava ligar todos os dias, chamou o encarregado e disse:
"Esta máquina avariou. Temos que chamar o técnico para a vir consertar."
O técnico, depois de passar uma tarde inteira de volta da máquina, conseguiu resolver a avaria. Mas a máquina parece que ganhou uma outra vida e nunca mais parou de pensar em como é que havia de fazer para sair daquela programação que tinham instalado nela. Ela teve tantas avarias a seguir àquela que os responsáveis pela fábrica, depois de mais uma vez ela ter avariado, resolveram não a consertar mais e enviaram-na para a sucata, substituindo-a por outra.
Ali na sucata, apesar de ela estar assustada, teve a esperança de finalmente encontrar uma nova vida. Como ela não tinha mais nada para fazer, passava o tempo todo a imaginar como seria fazer coisas diferentes daquelas que conhecia. Mesmo não conhecendo o mundo fora do que estava à sua volta, ela puxou pela sua imaginação, tentando visualizar coisas que antes pareciam impossíveis para ela.
Então, uns dias mais tarde, apareceu por ali alguém que a tirou da sucata e a levou para um local que parecia ser uma garagem.
O homem que a levou era um 'engenhocas' que gostava de construir máquinas novas com peças que ia buscar à sucata. Assim, ele transformou a máquina de pintar automóveis num carrinho de rolamentos que servia para a sua diversão, pois ele adorava participar nas corridas que se faziam por altura das festas e arraiais.
Então, a partir daquele dia, a máquina que tinha sido programada para pintar automóveis, passou a conhecer um mundo totalmente diferente daquele para o qual tinha sido criada. Agora, ela passava os dias em corridas de carrinhos de rolamentos e conheceu coisas que jamais teria conhecido se continuasse fechada na fábrica a fazer sempre a mesma coisa.
Entretanto, a máquina até acabou por fazer amizade com outros carrinhos de rolamentos, que tal como ela, também tinham sido transformados.
Um dia mais tarde, procurei por notícias da máquina e fiquei a saber que, quando ela deixou de ser um carrinho de rolamentos, por causa do desgaste feito nas corridas, o ‘engenhocas’ transformou-a num carrinho para os seus filhos brincarem.
Então esta máquina, que já tinha sido pintora de automóveis e carrinho de rolamentos, agora passava o dia a entreter as crianças, fazendo-as rir e divertir-se sem parar. E como as crianças têm uma imaginação muito fértil, cada dia ela tinha uma aventura completamente diferente!
A máquina acabou por ali os seus dias. Mas ela viveu e aprendeu mais do que se fosse apenas uma simples máquina de pintar automóveis! A vida dela foi muito mais rica e preenchida do que alguma vez ela poderia ter imaginado!
Agora que te contei esta história, gostaria de te fazer uma proposta. Procura ver que programas estão a ser instalados na tua mente que te possam impedir de descobrir coisas que nunca pensaste ou imaginaste que podias fazer.
Abre-te para aquilo que é novo e verás que a tua vida nunca será triste ou monótona. Procura dentro de ti a ponte entre a tua mente e o teu coração, porque a mente dá-te uma direção, mas o coração dá-te um sentido!
Awen /|\
Célia Marques 05/06/23
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