Salvador

 

Salvador

 

 

Somos responsáveis pelas decisões que tomamos e pelas escolhas que fazemos, pois estas são ferramentas com as quais construímos a nossa vida. Esta é uma história de ficção e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. 

 

***

 

Salvador cresceu no Casal da Areia, uma aldeia que fica a doze quilómetros da Nazaré. O pai dele, empresário da construção civil, criou a sua equipa de pedreiros quando Salvador tinha dez anos e a irmã Sara oito anos. A mãe cuidava da casa e trabalhava como costureira num anexo que transformou em sala de costura, onde fazia todo o tipo de trabalhos, desde arranjos até a confeção de cortinados e roupas por encomenda. Salvador teve uma infância feliz, mas era um pouco mimado pela mãe, pois ela estava sempre a fazer-lhe as vontades todas e desculpando-o das muitas travessuras que sempre fazia. A irmã acabava muitas vezes por ser a vítima preferida de Salvador, porque ele estava sempre a provoca-la e depois ria-se com gosto das reações dela. A brincadeira favorita dele era dizer-lhe enquanto comiam:

            “Hummm pernas de rã… nham nham estas cobras são deliciosas…”A irmã gritava e chorava, mas acabava sempre por lhe perdoar as diabruras porque gostava muito do irmão. Ela sofria em silêncio por achar que ele não gostava dela e porque a mãe quase nunca interferia. Eles foram crescendo e conforme foram ficando mais velhos, passaram a dar-se melhor, mas nunca foram muito próximos, apesar de serem irmãos.         

Aos vinte anos, Salvador tornou-se num rapaz bonito que atraía a atenção das raparigas. Elas gostavam muito dos seus olhos castanhos e do seu sorriso travesso. Apesar de ser um pouco tímido, quando se soltava compensava sempre com conversas sobre cinema, música, história e filosofia. Elas adoravam ouvir o que ele dizia e assim Salvador fazia sucesso falando daquilo que mais gostava. Praticar desporto era também uma das suas paixões, principalmente futebol, assim apesar de ser magro, tinha um corpo atlético e bem estruturado. Nesse tempo ele trabalhava para o pai na construção civil e aos fins de semana gostava de se divertir, com os jovens da sua idade indo a bailes e a festas. E foi numa dessas festas que aos vinte e um anos conheceu a rapariga com quem acabou por se casar.

Eles conheceram-se em setembro do ano dois mil, nas festas da Nossa Senhora da Nazaré, naquele que foi o último ano em que foram realizadas no Sítio. Marta tinha dezoito anos e morava com os pais em Lisboa, mas nesse fim de semana gostava de ir para casa dos avós no Valado dos Frades para poder ir às festas com a amiga de infância, a Tereza. No sábado à noite combinou encontrar-se com a amiga para verem juntas o fogo-de-artifício e irem ao baile. Ela era uma rapariga bonita, que atraía a atenção com os seus olhos grandes de um castanho esverdeado e o cabelo preto comprido, que nesse dia usava preso numa trança puxada para o lado. Trazia vestido uma camisola assimétrica com uma saia curta e calçava umas botas rasas, no estilo hippie chic que tanto adorava. Quando Salvador a viu no baile, sentiu-se logo atraído por ela e tentou a sorte dele convidando-a para dançar. Marta aceitou e acabou por ficar com ele durante todo o baile a conversar e a dançar, até a amiga Tereza dizer que ia embora com os pais. Então ela disse que precisava ir embora também e despediu-se combinando encontrar-se com ele no fim de semana seguinte no Café Central do Valado.

Sempre que Marta ia para casa dos avós aos fins de semana Salvador encontrava-se com ela no café e ele acabou por pedir-lhe namoro, pois passava o tempo todo a pensar nela. O seu sorriso, o seu olhar, as conversas que tinham faziam-no sentir que ela era a rapariga dos seus sonhos. Ela também adorava as conversas que tinham e a forma como se sentia na sua companhia, então aceitou o pedido. Tinham muita coisa em comum, estavam a apaixonar-se e queriam estar sempre juntos. A amiga Tereza dizia-lhe que eles eram perfeitos um para o outro, o que fazia Marta sentir-se uma sortuda por tê-lo encontrado.

Eles casaram dois anos depois, em setembro para homenagear o mês em que se conheceram. Salvador comprou um apartamento na Nazaré perto do mar com o dinheiro que conseguiu juntar na construção civil, porque desde que acabou a escola secundária preferiu ir trabalhar para ganhar o seu próprio dinheiro do que ir para a universidade. Ele dizia que assim podia comprar os livros que quisesse. E tinha muitos, principalmente de filosofia. Ele adorava ler Nietzsche.

Marta adorava a arte da pastelaria e tirou um curso quando finalizou a escola secundária. Então arranjou trabalho numa pastelaria local de fabrico próprio e ficou muito feliz por poder fazer o que gostava e ainda poder trabalhar perto de casa. Tudo era perfeito e maravilhoso; vivia num lugar lindo que sempre adorou desde infância e estava casada com o homem dos seus sonhos. Ela sentia-se a mulher mais feliz do mundo!

 

***

 

Marta e Salvador eram um bonito casal que passeavam juntos para todo o lado; iam ao cinema, à praia, a concertos de música com os artistas favoritos. Em abril de dois mil e três assistiram a um concerto dos ‘Coldplay’, uma banda que ambos adoravam. Também gostavam de alguns artistas portugueses, principalmente do Pedro Abrunhosa e do Paulo Gonzo, e assistiram aos seus concertos nas festas da Nazaré e de Alcobaça. Eles tinham muita coisa em comum, quando falavam de filosofia, discordavam um pouco, mas acabavam por se entender e respeitavam as suas opiniões diferentes. Muitas vezes essas discussões terminavam no quarto e eles acabavam por fazer amor entre beijos e gargalhadas.    

Quando Marta engravidou, ficaram ambos radiantes de felicidade e Passaram os nove meses seguintes fazendo planos para a chegada da filha que nasceu em fevereiro de dois mil e quatro. Joana era uma bebé calma e sorridente e Salvador adorava-a, mas com o passar do tempo ele começou a ir para os bares depois de sair do trabalho. Ficava até tarde e passou a beber demais, entrando perigosamente num ciclo vicioso e destrutivo. Quando chegava a casa a filha já estava na cama e de manhã quase nunca a via, porque saía antes de ela acordar. Salvador perdia assim os melhores anos da filha e o casamento que tinha sido perfeito começava a desmoronar.  

Marta estava a ficar desanimada com o rumo que sua vida estava a levar: Em casa tinha que resolver tudo sozinha, porque Salvador chegava sempre tarde e muitas vezes já voltava com muitas cervejas a mais. Parecia que ele se tinha desinteressado completamente da vida familiar e ela sentia-se a sufocar entre cuidar da casa e resolver problemas sem o apoio dele. Quando o conheceu achou-o inteligente, bonito, sensível, carinhoso e divertido. Agora parecia outra pessoa, não reconhecia mais o homem por quem se tinha apaixonado e com quem tinha partilhado momentos maravilhosos cheios de cumplicidade e alegria. Até parecia por vezes que era mãe do marido também, pois ele entregava para ela toda a responsabilidade familiar. Ela disse-lhe certa vez:

“Estou a ficar farta das tuas ausências Salvador, estás cada vez mais indiferente até parece que já não gostas de mim!”

“Não sejas doida… alguma vez te faltei com alguma coisa?” Ela pensava em tantas coisas que sentia falta; o afeto, as conversas, as coisas que faziam, quando se casaram… de poder contar com a ajuda dele. Mas acabou por responder:

 “Não estás presente no crescimento e na educação da nossa filha e eu sinto-me sozinha sem o teu apoio! Ela está a crescer e tu quase nem a vês!”

“Onde queres chegar com essa conversa? Eu ainda estou aqui… não estou?”

“Estás fisicamente, mas não te sinto como antes. Estás aqui, mas parece que estás noutro lugar… e tens bebido demais! Onde é que está o homem que gostava de conversar comigo e de estar na minha companhia? Onde é que está o homem que dizia que me amava? Já te esqueceste de tudo o que vivemos?”

“E tu Marta? Ainda me amas? Quando estou em casa parece que já não tens tempo para mim…”

“Não acredito que estás com ciúmes da tua própria filha Salvador! Podemos estar juntos e cuidar da nossa filha, já chega bem o tempo em que ela fica com a ama enquanto estamos a trabalhar, quando estamos os três precisamos de ser uma família unida… Tenho saudades do tempo em que fazíamos tudo juntos!”

Salvador ficava incomodado com estas discussões e só conseguia pensar que ela estava a exagerar e a ser muito dramática. Então saía de casa e ia para o café, voltando com muitas cervejas a mais. Nem se dava conta que estava a trocar o tempo com Mulher e a filha, pelo tempo que passava cada vez mais fora de casa.      

Marta sentia-se cada vez mais infeliz e às vezes até desabafava com a amiga Tereza dizendo-lhe:

“Ele mudou tanto Tereza, não parece o mesmo homem com quem casei. Sinto-me a morrer por dentro a viver assim.”  

Então passados oito anos após se terem casado, ela pediu o divórcio e foi morar para casa dos avós. Marta podia assim continuar a trabalhar na pastelaria e Joana, que já tinha seis anos naquela altura, podia continuar na escola em que tinha sido matriculada no primeiro ano.

 

***

 

Foi um duro golpe para Salvador, pois ele nunca pensou que Marta o deixasse. Pediu-lhe perdão e prometeu-lhe que iria mudar, que tudo seria como era antes. Mas Marta não acreditou numa palavra e disse-lhe:

“Muda de vida por ti e para ti. Sabes que podes contar com a minha ajuda para o que for preciso, mas eu não vou voltar, tens que aprender a viver sem mim.”

“Marta, eu amo-te tanto! Juro que agora vai ser diferente, tu és a mulher da minha vida… por favor perdoa-me e volta para mim!”

 Marta não quis voltar, pois perdera a confiança nele e também o amor que havia sentido um dia. Ela sabia que ele precisava daquela prova para mudar de vida e ela de viver de acordo com a sua verdade sendo fiel a ela própria, pois sempre fora uma pessoa alegre e de bem com a vida. Marta sentia que estava a perder isso nos últimos tempos, o coração dizia-lhe que não dava para continuar a viver assim. Por isso decidiu que precisava recuperar a vida que sentia que estava a perder.   

Salvador começou a beber ainda mais e também a faltar ao trabalho, deixando os pais preocupados. A mãe dele pediu ao marido para fazer qualquer coisa para que Salvador deixasse de beber e saísse da vida que levava. Ouvia dizer pela vizinhança que Salvador era visto muitas vezes a sair dos bares a cambalear e ela precisava de fazer qualquer coisa pelo filho. Se pelo menos ela pudesse sentir-se tranquila e em paz… não havia um dia que não ficasse com o coração nas mãos, tal era a preocupação que sentia. Mas não condenava Marta por tê-lo deixado, ela compreendia muito bem porque a ex. nora o tinha feito… mas era o seu filho amado que via a perder-se na vida, não podia ficar de braços cruzados!

Num sábado à noite o pai foi à procura dele, e encontrou-o no bar que costumava frequentar completamente bêbado. Dava dó a qualquer um que o visse naquele estado lastimável; as pessoas que o viam, uns riam-se da sua figura e outros olhavam para ele com pena. O pai assim que o viu levou-o para o apartamento dele, deitou-o na cama e dormiu no sofá da sala. No dia seguinte pela manhã Salvador estava com uma ressaca horrível, mas o pai não o poupou e disse-lhe:

“Esta situação já passou dos limites, a partir de agora não te quero a trabalhar mais comigo…”

“Como você me pode fazer isto, pai! Eu sou seu filho…”

            “Não posso ficar de braços cruzados enquanto te vejo a destruíres a tua vida.” Disse-lhe o pai de forma severa.

“Mas pai…onde vou arranjar agora outro emprego?” Disse ele assustado e tomando finalmente consciência do rumo que que a sua vida estava a levar.

“O que estou a fazer é para o teu bem e para que penses melhor sobre o que andas a fazer da tua vida. Espero que assim te modifiques e voltes a ter juízo nessa cabeça. Toma lá este cheque para procurares ajuda! Daqui em diante procura-me só quando tiveres resolvido a tua situação.” Disse-lhe ele, deixando-lhe um cheque de cinco mil euros em cima da mesa da cozinha e saindo de casa sem olhar para trás… mas sentindo um aperto no coração por ter que tomar aquela decisão.

 

***

             

Ser despedido pelo próprio pai, foi a gota de água. Salvador estava no limite e precisava de fazer alguma coisa, não podia mais continuar com a vida daquela maneira. Pela primeira vez admitia que beber se tinha tornado num vício que o estava a destruir e que Marta tinha razão quando lhe disse que se tinha ausentado da educação e da relação com a filha. Sentiu-se mal, por pensar que a mulher estava sempre pronta para ele e lamentou não ter percebido que ela pudesse sentir-se infeliz. Como gostava que o tempo voltasse atrás para poder fazer tudo de maneira diferente e assim valorizar mais a mulher e a filha! Percebeu também que os pais estavam preocupados e dececionados e decidiu que tinha que fazer qualquer coisa para mudar de vida e precisava de ser radical na mudança! Estava no fundo do poço, pensou ele, pior do que isso seria difícil!

A vida estava a ensinar-lhe algo e ele precisava dar-lhe ouvidos. Estava na hora de deixar de ter pena dele próprio e começar de novo. Decidiu então usar o dinheiro que o pai lhe deu para deixar de beber de uma vez por todas e procurou ajuda numa clinica de reabilitação. Foi firme na decisão que tomou, e em apenas seis meses de internamento deixou de beber totalmente. Quando saiu da clinica estava já muito mudado e comprometido com a recuperação. Era uma dura batalha que travava todos os dias, mas ele sabia que iria vencer desta vez. Não iria deixar o álcool tomar mais conta da sua vida! Estava determinado a melhorar como pessoa, reconquistar o amor da filha e também o seu amor-próprio.

Pediu ajuda a Marta para lhe ensinar algumas tarefas domésticas e esforçou-se para aprender rápido. Como estava desempregado, tinha mais tempo, então voltou a pegar nos livros de filosofia para procurar as respostas para as perguntas que lhe surgiam na mente, talvez Nietzsche o pudesse ajudar naquele momento.

Com a sua busca para mudar de vida também encontrou livros de desenvolvimento pessoal e espiritual que o fizeram sentir que o novo conhecimento que aprendia era como se fosse ‘um divisor de águas’ na sua vida. Ele leu Eckart Tolle, Osho, Deepak Chopra… entre outros autores que geram transformação interna com os seus livros.

Salvador procurava encontrar-se a si próprio enfrentando o mundo e também os seus próprios demónios numa catarse necessária para a transformação que precisava viver. Decidiu começar a praticar meditação como aprendia nos livros e também nos muitos vídeos que assistia na internet. Passava muito tempo a observar o mar em passeios que o faziam pensar como deveria recuperar a sua vida. Tolle dizia nos seus livros para estar presente no agora e Salvador procurava seguir esses ensinamentos de forma rigorosa, pois faziam muito sentido para ele.

Depois de muito aprender com este novo conhecimento, não dava mais para voltar a ser a pessoa que era antes. Uma frase que ele leu num livro de filosofia dizia: “Uma mente que se abre para uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original”. Salvador tinha lido muitos livros de filosofia na juventude, mas com o conhecimento que adquiria agora com os livros filosóficos e espirituais, sentia que tudo fazia ainda mais sentido, pois naquele tempo não tinha entendido como entendia agora. O entendimento muda quando a consciência é ampliada. Por isso há uma perceção maior, quando o mesmo livro é lido em épocas diferentes da vida.

Ele sabia que estava na hora de encontrar um emprego que lhe oferecesse equilíbrio, bem-estar e que lhe desse também prazer e alegria. Desde que fora despedido pelo pai e saiu da clinica de reabilitação, que sobrevivia com apenas alguns trabalhos temporários fazendo ‘biscates’ e as campanhas de verão a apanhar fruta nos pomares do Vimeiro.

 

***

 

Estava uma linda manhã de primavera, com as gaivotas a cantarolar nas falésias da Nazaré quando Salvador saiu de casa sem nada em concreto para procurar, mas decidiu confiar no destino. Já fazia um ano que estava sozinho e durante aquele tempo tinha feito muitas mudanças internas com a ajuda da meditação. A filha Joana que costumava passar com ele alguns fins de semana, começava a gostar da companhia do pai, pois ele preparava sempre brincadeiras que sabia que a filha iria gostar. Nunca mais se encontrou com os amigos do bar, achava que era melhor não dar oportunidade ao vício, podia voltar a cair e não queria correr esse risco.

 Àquela hora da manhã as ruas da Nazaré estavam quase desertas e Salvador ia distraído a pensar nisto quando de repente reparou num anúncio junto à entrada de um restaurante, que pedia um empregado de mesa para entrada imediata. Leu o anúncio com atenção e verificou que se iriam realizar entrevistas aos interessados que aparecessem ainda naquele dia depois de almoço. Não pediam currículo nem nada, apenas pediam o preenchimento de uma ficha de inscrição. Salvador sentiu que devia tentar a sua sorte, entrou no restaurante e pediu a ficha e preencheu-a logo ali com o empregado que estava no balcão.

Precisava mesmo de conseguir aquele emprego, estava fora de questão voltar a trabalhar para o pai, sentia que precisava de fazer algo novo para provar a ele próprio que conseguia arranjar um trabalho diferente.    

Às duas da tarde sem falta, estava no restaurante para a entrevista e foi encaminhado para uma salinha onde havia mais dois homens para serem entrevistados. Salvador ficou um pouco apreensivo, mas decidiu que precisava ficar descontraído e ter confiança. Não podia perder a fé que tinha conquistado nos últimos tempos. Ele foi o segundo a ser chamado e ao ser entrevistado, procurou ser o mais honesto possível ao responder às perguntas. O responsável pela entrevista era um homem baixo com um ar simpático que colocou logo Salvador à vontade, olhou para a ficha de inscrição e perguntou-lhe:

“Então Salvador… Porque quer trabalhar connosco neste restaurante?”

“Bem… estou aqui porque preciso começar de novo depois que o meu casamento acabou. Estou desempregado e gostava de fazer algo diferente do que fazia antes.”

“E o que é que você fazia antes?”

“Trabalhava para o meu pai na construção civil. Era responsável pela obra.”

“Tem alguma experiência a servir às mesas? Estamos a precisar de um colaborador nessa função.”

 “Não tenho nenhuma experiência, mas estou disposto a aprender e a dar o meu melhor, quero muito fazer algo novo e conhecer pessoas novas!”

“Certo…certo… fique atento, se você for escolhido entraremos em contato consigo.” Disse ele enquanto o despedia estendendo-lhe a mão.

“Muito obrigado!” Disse Salvador ao levantar-se e apertando a mão de forma amigável.

No dia seguinte ele soube que tinha sido o escolhido por mensagem no telemóvel e iria começar dali a uma semana. Quando leu a mensagem, olhou para o céu e agradeceu em silêncio. A vida estava a dar-lhe uma nova oportunidade e ele não iria desperdiça-la!

 

***

 

O restaurante era uma marisqueira muito frequentada por turistas e tinha maior afluência no verão. Era início de junho e havia muito trabalho para os meses seguintes. Salvador não sabia se o contrato seria renovado, mas agora não queria pensar nisso. Estava empenhado em dar o melhor e ele acreditava que se fosse bom o suficiente poderiam renovar-lhe o contrato para o inverno.

            Ali no restaurante conhecia pessoas novas todos os dias e a relação com os colegas era muito boa. Tinha feito novos amigos e alguns até com interesses muito parecidos com os dele. Trabalhava lá um rapaz que jogava futebol amador nos tempos livres e convidou Salvador para participar num treino. Então combinaram encontrar-se na próxima folga no clube desportivo da Gafanha da Nazaré para darem uns ‘toques’ na bola, acabando por se juntar todas as vezes que podiam.

 

***

           

Dois anos depois de se ter divorciado de Marta, esta foi a vida que Salvador conquistou, quando decidiu deixar de ter pena dele próprio e dar um rumo diferente à vida que levava. Agora até agradecia a Marta e aos pais pelas mudanças que tinha conquistado, apenas lamentava não ter tido esta atitude antes de perder a mulher que ainda amava. No entanto agora amava-a de uma outra forma; ele queria que ela fosse feliz mesmo que não estivesse mais com ele. Sabia que Marta tinha um novo namorado e sentia um pouco de ciúmes, mas conseguia sentir-se feliz por ela, porque o verdadeiro amor é assim, só quer o bem e a felicidade do outro. Um dia, pensou ele, ainda iria conhecer outra mulher para partilhar a vida e desta vez ele não iria cometer os mesmos erros!

A filha Joana estava quase a fazer oito anos e Salvador passeava com ela para todo o lado. Sentia que a filha gostava de estar na sua companhia, pois gostavam de ir juntos ao cinema ver filmes de animação e de passear à beira mar. Um dia até a levou a assistir um treino de futebol e ela adorou... Joana gostava de muitas coisas iguais ao pai, talvez um dia ela também gostasse de discutir filosofia, história, cinema e música. Um dia, ele iria também falar-lhe das coisas que o tinham ajudado a mudar de vida…

  

 

Célia Marques 21/05/21    

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A minha vida num enredo

O tempo está a contar

Nada é em vão