Mensagem aberta para um amigo querido

Olá meu querido amigo, como tens passado?

Eu tenho andado como Deus quer... Já não te via a algum tempo! 

Sabes, desde criança que gosto de vir aqui ter contigo. Subir esta serra, sempre me fez muito bem!

Lembras-te da primeira vez que aqui estive? 

Eu lembro-me bem... Já foi há tanto tempo. 

Eu tinha talvez uns seis anos. Os meus pais estavam na Salgueira atarefados com alguma tarefa agrícola e eu estava com eles. 

Então eu vim ter contigo. 
Sozinha.

Nessa altura foi uma descoberta!

Depois o tempo foi passando e entrei naquela fase complicada da adolescência, estás a ver como é. Não se pensa em mais nada senão em festas e em rapazes. 

Mas depois eu casei sabias?

Sim, é verdade e tive dois belos rapazes!

Durante um tempo estive muito ocupada a cuidar deles e não tinha tempo para vir ter contigo. 
Gostava que os conhecesses, eles são fantásticos. 
Agora já são uns homens!

Querido Talefe, lembras-te quando eu queria perder peso e vinha a correr ter contigo três ou quatro vezes por semana?
Eu lembro-me bem.

Tinha engordado muito na gravidez do meu filho mais novo. 
Mas nesse tempo consegui ser determinada e recuperei a boa forma. Eu perdi dez quilos!

Depois o tempo foi passando e eu fiquei um tempo sem te vir ver.
Mas eu nunca me esqueci de ti, e sempre que posso procuro voltar!

Pois é meu querido amigo, o tempo passa e eu vou indo e voltando. 

Agora já faz algum tempo desde a última vez que estive cá.

Ainda te lembras de quando é que foi?

Eu não me lembro bem, terá sido no verão passado? 

Não sei, não posso precisar.

O que eu sei é que a primavera está aí à porta e eu senti necessidade de voltar. 

Parece que foi ontem, mas ao mesmo tempo já passou tanto tempo!

Tanta coisa aconteceu desde que estive contigo a última vez...

Sabes, os meus filhos crescerem e agora estão prestes voar.

E o meu homem...
Ele também se quis libertar.

Então agora estou aqui na tua companhia. 

Ouço a tua voz através do som das ventoinhas a rodar, e tu abraças-me com as tuas mãos de vento.

E eu sinto-me tão bem contigo! 

Aqui estou eu, encostada a ti e a saborear este lindo momento!

Meu querido amigo, tu és aquele que nunca me decepcionou...

Talvez as minhas espectativas tenham sido demasiado altas.
Eu sei... Devia deixar-me disso. 
Um dia ainda vou conseguir!

Mas às vezes sinto-me um pouco só. 

Não te preocupes comigo, eu estou bem. 
Estou a habituar-me à solidão. Aos poucos ela irá transformar-se em solitude.

Quero que saibas que apesar de tudo, eu consigo ver a felicidade a vir pela janela. 

Ela vem de mansinho, pé ante pé. 

Até já consigo cheirar-lhe o seu aroma e sentir-lhe o toque!

E este momento aqui contigo, meu querido amigo, faz-me vê-la chegar!

Awen /|\

Célia Marques 
15/03/2023

Comentários

  1. É impressão minha ou estás te a tornar numa grande autora??? A sério, a segurança com que falas neste poema... não percebo nada disto mas eu, enquanto artista, sinto mesmo que estás a florir e de que maneira! Adorei!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah e já agora adorei a mudança de visual do blog hihi

      Eliminar
    2. Ass. Dudu outra vez, esta cena apareceu anónimo

      Eliminar
  2. Gratidão! Escrever é o que mais amo fazer... 🙌🙏💖

    ResponderEliminar
  3. Que texto tão bonito😀 Acredita que o que quer que estejas a passar não é um final, mas apenas o início de algo que ainda não entendeste!
    Obrigada pela a partilha.
    Sê feliz🕊

    ResponderEliminar
  4. Que bonito minha querida irmã!...
    És uma força da natureza ...🌄
    Bjs

    ResponderEliminar
  5. Olá, Célia!

    Vim aqui parar, porque a encontrei no blog do Olavo.
    Gostei bastante da sua prosa poética, mas acho que por detrás dessa amizade, existe um outro sentimento. Casou, teve dois filhos e o marido foi embora. É uma mulher livre.
    A solidão é difícil, mas fale e encontre-se com o seu amado "amigo" e vai ver que vai ser bom, muito bom para ambos. É necessário que haja reciprocidade.

    Beijinhos e bom fim de semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Céu,
      acho que você não entendeu a minha prosa. O amigo a que me refiro no texto é literalmente o Talefe, que é o marco geodésico da foto, que se ler bem, em certo momento eu refiro no texto.

      Eliminar
    2. Olá, Célia!
      Não entendi, não, embora tenha olhado a imagem do marco com curiosidade.
      Personifiquei-o, e quem sabe se não encontrará um "Talefe" na sua vida, se assim o desejar, claro.
      Bom fim de semana.

      Eliminar
  6. Será que alguém se habitua, realmente, à solidão?
    Abraço amigo.
    Juvenal Nunes

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A minha vida num enredo

O tempo está a contar

Nada é em vão